Agronegócio
Diagnóstico da seca no Paraná aponta prejuízos bilionários
Agronegócio
Na segunda semana de janeiro, uma equipe da FAEP pegou a estrada, percorrendo junto com uma comitiva formada por técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), as regiões mais afetadas pela seca no Paraná. Pelo terceiro ano consecutivo choveu abaixo do esperado no Estado, colocando a agricultura de joelhos. O final de 2019 já traçava um cenário de seca, que perdurou por 2020, causando prejuízos principalmente no milho segunda safra. Agora fecha 2021 e começa 2022 com uma verdadeira catástrofe no campo, com perdas de produtividade na casa dos 75% em algumas regiões, caso da soja, principal cultura agrícola do Estado.
O roteiro começou por Guarapuava, na região Centro-Sul, passou por Pitanga, Campo Mourão (Centro-Oeste), Maringá (Noroeste), Umuarama, Palotina (Oeste), Toledo, Medianeira, Cascavel, Pato Branco (Sudoeste) e Prudentópolis, finalizando a viagem na região onde começou. Em cada encontro, lideranças rurais, empresas, cooperativas da região e produtores em geral traçavam um panorama da destruição causada pela seca. Em praticamente todos os encontros, técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) trouxeram dados das quebras registradas. Conforme a colheita avançou essas perdas só aumentaram, confirmando esta como uma das piores temporadas da história da agricultura paranaense.
“Em cada reunião, procuramos ouvir quais as atividades mais impactadas em cada região. A partir daí, a FAEP, em conjunto com a Ocepar, Fetaep e o governo do Estado, elaborou um documento que foi encaminhado à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, com os pedidos do Paraná”, afirmou o coordenador do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, Jefrey Albers, que esteve na comitiva.
“As perdas são generalizadas. De modo geral, o próximo ano será de muita dificuldade, principalmente para aqueles produtores que não contrataram seguro rural e acabarão sofrendo de modo mais direto o impacto dessa quebra de safra”, avaliou Albers.
Quebra bilionária
De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab, a previsão inicial para a safra de soja 2021/22 era superior a 21 milhões de toneladas, mas só serão colhidas 12,8 mi de ton. A quebra de 39% ainda deve aumentar conforme a colheita avança. No feijão, essa perda foi da ordem de 31%, e no milho, insumo central para o desenvolvimento das cadeias de produção animal, o percentual de perdas atinge 36%.
A quebra na ponta da lavoura desencadeia um efeito dominó que impacta outras atividades que dependem do setor primário para produzir, como a produção de proteína animal (aves,
bovinos, suínos, peixes, ovos e leite). Os pecuaristas vão encontrar desabastecimento e preços altos na hora de alimentar os planteis e a agroindústria terá menos matéria prima para processar.
A experiência mostra que quando o campo vai bem, todo restante da economia segue aquecida. De outro lado, quando o campo tem problemas, esses efeitos são irradiados para outros setores. No varejo, a renda que deixou de ser colhida vai fazer falta. De acordo com o Deral, as perdas computadas na soja representam mais de R$ 23 bilhões, as do milho somam R$ 2,2 bilhões e no feijão, os prejuízos ultrapassam R$ 395 milhões. Todo esse montante deixará de circular na economia paranaense, afetando praticamente todos os segmentos.
Estiagem ainda deve perdurar por meses
Poucas chuvas, temperaturas elevadas e um solo que já vinha com baixa umidade por conta de uma longa temporada com precipitações abaixo da média. Estes foram os componentes da catástrofe colhida em praticamente todas as regiões do Paraná. Em todos os locais visitados pela FAEP era comum relatos de produtores que nunca haviam passado por uma seca tão severa em suas vidas.
A estiagem que assola o Paraná não é de agora. Começou em 2018 e foi se agravando ao longo do tempo. Nos últimos três anos, houve chuvas abaixo da média histórica em quase todos os meses do ano, contribuindo para que a atual safra de verão fosse a campo em um solo com menor umidade, logo com menor capacidade de suportar períodos de estiagem.
De acordo com o agrometeorologista Marshall Santos, neste verão ainda estamos sob o efeito do fenômeno climático La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico, trazendo estiagem para região Sul do País. As projeções atuais indicam um período de neutralidade climática em breve.
Ainda segundo o agrometeorologista, as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) dão conta que em março os níveis de chuva ainda devem ficar abaixo da média histórica em boa parte do Paraná e abril também deve ser mais seco. Essas informações servem de alerta para a cultura do milho safrinha, principalmente nas regiões Oeste, Noroeste e Sudoeste do Estado.
Agronegócio
Ponte desaba e expõe gargalos logísticos para o escoamento da safra
O desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, no último domingo (22.12), trouxe à tona os problemas crônicos da infraestrutura logística brasileira. A estrutura, que conectava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), desmoronou sobre o rio Tocantins, provocando uma tragédia com uma morte confirmada e pelo menos 14 pessoas desaparecidas. Caminhões que transportavam ácido sulfúrico e herbicidas também caíram no rio, levando as prefeituras a emitirem alertas sobre contaminação da água.
O acidente ocorre em um momento crítico para o agronegócio nacional. O Brasil deve alcançar uma safra recorde de 322,53 milhões de toneladas de grãos em 2024/25, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Este aumento de 8,2% em relação à safra anterior reflete o crescimento da produção de soja e milho, mas evidencia os desafios logísticos de um setor cada vez mais pressionado por gargalos estruturais.
A ponte Juscelino Kubitschek estava localizada na região do Matopiba, uma das áreas de maior crescimento do agronegócio no Brasil, englobando os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Nos últimos dez anos, a produção de grãos na região aumentou 92%, saltando de 18 milhões de toneladas em 2013/14 para 35 milhões em 2024.
Essa expansão, no entanto, tem sobrecarregado a infraestrutura local. O intenso tráfego de cargas pesadas, principalmente de fertilizantes e grãos, contribuiu para o desgaste da ponte, que já apresentava rachaduras e denúncias de negligência na manutenção.
Além de afetar a segurança da população, o desabamento representa um entrave significativo ao escoamento da safra. Os portos do Arco Norte, responsáveis por 35,1% das exportações de grãos em outubro de 2024, são fundamentais para o agronegócio brasileiro. A interdição da ponte pode impactar negativamente a logística de transporte para esses portos, aumentando custos e atrasos.
O transporte de fertilizantes também está em alta, com as importações alcançando 4,9 milhões de toneladas em outubro, um crescimento de 5,9% em relação ao mês anterior. Essa demanda reforça a necessidade de investimentos em infraestrutura para evitar colapsos como o ocorrido no rio Tocantins.
Entidades do agronegócio, como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), destacam que episódios como este evidenciam a urgência de investimentos em infraestrutura. “O crescimento do agronegócio brasileiro depende diretamente de uma logística eficiente. A tragédia no rio Tocantins é um alerta para a necessidade de modernização das rotas de transporte e manutenção das estruturas existentes”, afirma a CNA em nota.
O Ministério dos Transportes já anunciou a abertura de uma sindicância para investigar o desabamento e prometeu reconstruir a ponte em 2025. Enquanto isso, o setor agropecuário pede soluções imediatas, como rotas alternativas e a implementação de medidas para mitigar os impactos sobre a logística da safra.
Embora críticas à expansão do agronegócio tenham ganhado destaque após o acidente, é crucial equilibrar o debate. O setor é um pilar da economia nacional, responsável por 25% do PIB e por grande parte das exportações brasileiras. Investir em infraestrutura adequada e eficiente não é apenas uma questão de atender às demandas do agronegócio, mas de assegurar que o crescimento econômico venha acompanhado de segurança, sustentabilidade e benefícios para toda a sociedade.
O desafio agora é transformar essa tragédia em um ponto de virada, priorizando investimentos estratégicos que garantam a competitividade do agronegócio no mercado global, sem negligenciar a segurança das comunidades locais e a preservação ambiental.
Fonte: Pensar Agro
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