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Agronegócio

A guerra e os insumos agrícolas

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Algumas crises oportunizam novos ângulos para a análise da realidade. É o caso da crise humanitária, ambiental, econômica, política e militar provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Por meio dela revelou-se a extrema e perigosa dependência de outros países que o Brasil tem no suprimento de insumos agrícolas, especialmente de fertilizante.  

Uma potência agrícola planetária, com crescentes índices de produção e produtividade, o Brasil obtém no exterior mais de 80% dos fertilizantes que necessita. Os principais nutrientes aplicados no País são potássio 38%, cálcio 33%, nitrogênio 29%. A cultura da soja demanda mais de 40% dos fertilizantes aplicados. O Brasil importa 9 milhões de toneladas de insumos por ano e é o quarto consumidor mundial de fertilizantes, atrás de China, Índia e EUA. O País é dependente das importações, porém tem todas as matérias-primas para produzir, como gás natural, rochas fosfáticas e potássicas e micronutrientes. As reservas de potássio estão localizadas em Sergipe e no Amazonas. O País, porém, nunca foi competitivo na produção de fertilizantes, mas também nunca priorizou a produção desse importante insumo para a agricultura nacional.

No atual cenário, a escalada dos preços dos insumos – cada vez mais escassos no mundo – tornou-se avassaladora. A ureia aumentou 300% no ano passado. O fosfato aumentou 100%, de US$ 400 para US$ 800 a tonelada e o potássio encareceu 170% e passou de US$ 290 a US$ 780 a tonelada. A ureia é feita de gás de petróleo. Rússia suspendeu a produção para abastecer a Europa com gás. Por outro lado, o cloreto de potássio de Belarus não está sendo exportado em razão da guerra, pois a Lituânia trancou o acesso ao seu porto dos produtos daquele país.

Para a safra de verão, em preparação, os produtores já têm o fertilizante necessário, mas em setembro, no plantio da safrinha, serão necessárias grandes quantidades. É previsível que os produtores rurais usem menos fertilizantes na próxima safra, condição que se refletirá em menor produtividade. Então, temos quase cinco meses para equacionar essa questão. As fábricas não pararam nos países produtores, portanto, o maior desafio será efetivamente de logística em razão da guerra –  navegação marítima restrita, portos fechados, sanções em curso etc. Além da falta de navios, as rotas internacionais tornaram-se perigosas para a navegação e o banimento da Rússia do sistema bancário internacional cria insegurança sobre o pagamento das transações internacionais. 

O impacto desses movimentos continentais chega a Santa Catarina que necessita, anualmente, cerca de 500 mil toneladas de fertilizantes para preparar o plantio de 1,4 milhão de hectares de lavouras. As culturas que mais necessitam de fertilizantes são soja, arroz, trigo e milho, além de frutas e hortigranjeiros.

Nesse preocupante panorama é muito positivo o anúncio do Ministério da Agricultura sobre a criação do Plano Nacional de Fertilizantes. O primeiro desafio é provar que o Brasil pode ser mais competitivo. Precisamos buscar a autossuficiência nessa área porque os fornecedores mundiais são poucos. O Brasil importa 25% dos fertilizantes russos, mas pode buscar outros fornecedores como China, Canadá, Israel, países africanos. O Plano Nacional de Fertilizantes precisa encontrar um caminho para as necessidades da agricultura brasileira. Nesse aspecto é encorajador constatar que o Ministério da Agricultura negocia ureia com o Irã e a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, vai ao Canadá atrás de cloreto de potássio.

Mas o conflito também perturba os mercados de cereais e petróleo – commoditties que têm forte impacto no setor primário da economia. A Ucrânia é quarta exportadora de milho e produtora de trigo. Com ela fora do mercado em razão do conflito haverá menos milho no mercado mundial. Esse grão é essencial para a nutrição animal e com sua escassez ficará mais caro ainda para transformá-lo em proteína animal. Os criadores de aves e suínos e as indústrias de processamento da carne terão, portanto, forte aumento de custos.

O mercado do trigo também piora porque a Rússia é maior produtor e exportador mundial. O Brasil consome 12 milhões de toneladas das quais importa 6 milhões, boa parte da Argentina, principal fornecedora. O país vizinho já registra grande procura e os preços estão em viés de alta.

Por outro lado, a movimentação das máquinas e equipamentos agrícolas requer diesel, subproduto do petróleo, que teve a cotação do barril majorada de US$ 80 para US$ 120 nos últimos três meses. Outro fator perturbador é o transporte marítimo que registra aumento do frete e a falta de navios, como resultado do fechamento de portos e restrição da navegação no leste europeu.

A agricultura catarinense já está sofrendo os reflexos da guerra porque o comércio está globalizado e os efeitos são sentidos em todas as regiões do planeta. Os custos de produção aumentarão e o preço dos alimentos inexoravelmente subirá, prejudicando os consumidores. Como vimos, o conflito produz múltiplos efeitos, tendo como consequência mais nociva a escassez geral de insumos para a produção agrícola e aumento do preço dos alimentos para o consumidor final em Santa Catarina e no Brasil. 

Fonte: CNA Brasil

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Conab conclui a rodada de leilões de contratos de venda de arroz

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A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) concluiu na sexta-feira (20.12) a última rodada de leilões de contratos de opção de venda de arroz para a safra 2024/25. O encerramento marca o fim de uma iniciativa que buscou regular o mercado interno do cereal, ao mesmo tempo em que encerra a polêmica sobre a possível necessidade de importação para equilibrar a oferta no país. Foram negociados, nesta etapa final, 28,9 mil toneladas de arroz, em um valor total de R$ 51,1 milhões.

Desde julho, o mercado de arroz em casca no Brasil enfrentou um cenário de forte desacordo entre produtores e compradores. De um lado, os produtores optaram por priorizar exportações no porto de Rio Grande (RS), aproveitando a demanda internacional e buscando mitigar os efeitos da desvalorização do dólar. De outro, compradores, como indústrias de beneficiamento, resistiram a pagar preços mais altos, alegando dificuldades em repassar os custos ao varejo e atacado. Esse impasse travou negociações no mercado interno e trouxe incertezas para a definição dos preços do cereal.

Os leilões realizados pela Conab foram vistos como uma tentativa de aliviar essas tensões. Apesar de a expectativa inicial ser a comercialização de até 500 mil toneladas de arroz, foram negociadas ao todo 92,2 mil toneladas em 3,4 mil contratos de opção.

A operação, que contou com um orçamento de quase R$ 1 bilhão, poderá gerar um custo de R$ 163 milhões à Conab, caso todos os contratos sejam exercidos. O presidente da estatal, Edegar Pretto, avaliou o resultado como positivo, destacando que a baixa adesão indica confiança dos produtores na capacidade de absorção da safra pelo mercado doméstico, estimada em 12 milhões de toneladas.

A conclusão dos leilões também encerra uma das discussões mais sensíveis do ano: a possibilidade de importação de arroz para regular o mercado interno. Em julho, com o impasse entre oferta e demanda, a proposta de trazer arroz de outros países foi cogitada, mas enfrentou forte resistência dos produtores nacionais. Agora, com a comercialização incentivada pelos contratos de opção de venda, o cenário se ajusta, afastando o risco de medidas externas.

Os leilões também tiveram impacto regional significativo. No Rio Grande do Sul, maior estado produtor, cooperativas e agricultores de municípios como São Borja e Itaqui participaram ativamente. Já no Mato Grosso, produtores de cidades como Água Boa e Nova Monte Verde foram destaque na negociação dos contratos. Apesar de os números finais não terem atingido a meta inicial, a iniciativa da Conab trouxe alívio ao setor, consolidando-se como um mecanismo eficaz de regulação do mercado.

Com a finalização desse processo, espera-se maior estabilidade para o próximo ciclo de produção e comercialização. A estratégia da Conab reforçou a confiança do setor produtivo na capacidade de atender à demanda interna e garantiu maior segurança ao mercado, sem recorrer a medidas que poderiam comprometer a competitividade do agronegócio brasileiro.

Fonte: Pensar Agro

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