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Covid-19 e a necessária vacinação em massa

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Pesquisadora da Fiocruz resgata aprendizado sobre o sarampo como recurso para imunização do novo coronavírus

Este conteúdo foi originalmente publicado na edição nº 259 da revista BOA VONTADE. Recomendamos a leitura da publicação, disponível gratuitamente neste link: www.revistaboavontade.com.br

Se há alguma bússola para os rumos da humanidade, a história deve ser considerada como tal. Ao analisar os fatos registrados, pode-se compreender melhor quais atitudes no presente devem ser encorajadas e quais devem ser desconsideradas, evitando-se, desse modo, erros semelhantes aos de outrora. O mesmo raciocínio se aplica na área da Saúde, que já sofreu inúmeras crises, a exemplo da epidemia de sarampo no século passado.

A virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), participou ativamente da luta contra a doença, sobretudo na década de 1990, quando a contaminação era extremamente calamitosa. A propósito, quando criança, ela própria foi infectada por esse vírus.

A pesquisadora já atuou na linha de frente durante os surtos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), ocorrida em 2002 e 2003, e de Influenza A (H1N1), no ano de 2009. Desde o início da pandemia, está na linha de frente contra o novo coronavírus. Na entrevista a seguir, entre seus esclarecimentos, a especialista traça alguns comparativos quanto às campanhas de vacinação do sarampo e da Covid-19 e diz se poderemos ou não erradicar o Sars-CoV-2.

BOA VONTADE — Em 1992, o Brasil imunizou cerca de 48 milhões de crianças e jovens contra o sarampo em pouco mais de um mês. A senhora participou dessa ação, considerada até hoje o maior programa de vacinação do país e que eliminou essa doença e a rubéola. O que essa experiência nos ensina?

Dra. Marilda — Nós trabalhamos, desde 1992, em uma ação coordenada pelo Ministério da Saúde, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), que era apoiado em um tripé: alta cobertura vacinal [mais de 95% do público-alvo imunizado] e as vigilâncias epidemiológica e ambulatorial. Nós, da Fiocruz, participamos como laboratório de referência nacional. Esse programa foi um sucesso. Recebemos o certificado de eliminação de sarampo e rubéola no Brasil em 2016. O sucesso de 1992 a 2016 deve-se a uma série de fatores, como o gerenciamento forte pelo Ministério da Saúde e uma coordenação regional com outros países das Américas, que trabalharam juntos no mesmo programa, fazendo grandes campanhas de imunização. Essa coordenação de uma região toda, com estratégias bem definidas e vacinas suficientes, contribuiu, grandemente, para que tivéssemos êxito e pudéssemos receber o certificado em 2016.

BV — Qual a diferença dos casos de sarampo que surgiram recentemente para os que foram diagnosticados na década de 1980?

Dra. Marilda — Tivemos, em 2018, um retorno do sarampo no Brasil. Epidemias ocorriam na Venezuela, então, qualquer brasileiro ou estrangeiro que chegasse de lá doente poderia espalhar o vírus aqui, mas o retorno deve-se, principalmente, a uma queda acentuada dos níveis de vacinação da população. Estávamos, em 2018, com um número de pessoas não vacinadas contra a doença muito grande, essa foi uma das causas principais para o retorno do sarampo. Quando usamos uma estratégia de controle ou eliminação de uma moléstia, como no caso do sarampo, ela precisa ter sustentabilidade durante um período longo ou para sempre, boas coberturas vacinais e estratégias de vigilância epidemiológica e laboratorial, senão há um retorno da doença.

BV — Em relação à incidência do sarampo, qual o comparativo de infecções antes e depois da vacina?

Dra. Marilda — O sarampo era considerado a segunda causa de mortalidade infantil no mundo. Quando a vacina foi desenvolvida, em 1963, [pelo médico Maurice Hilleman (1919-2005),] para a população dos Estados Unidos, ainda não tínhamos esses programas fortes de controle e eliminação de uma enfermidade. [A Tríplice Viral, que imuniza contra o sarampo, a caxumba e a rubéola] não era homogênea nos países, inclusive no Brasil. Tínhamos em torno de 2,5 milhões de crianças morrendo por ano no mundo, uma tragédia impressionante. Quando passamos a ter uma vacina de sarampo com alta efetividade, muito boa, com quase 0% de chance de causar reações adversas importantes, houve estratégias bem definidas. Os países decidiram optar por esse programa [coordenado pelo Ministério da Saúde do Brasil]. Atualmente, com a queda do nível de vacinação das crianças, tivemos o retorno do sarampo. Isso mostra que não podemos dar trégua às doenças, senão elas voltam, mesmo aquelas com imunizantes já disponíveis, como o sarampo e a rubéola, que são vacinas excelentes. Do total de uma população, se 98% estão protegidos, os 2% que não foram vacinados não serão suficientes para a circulação do vírus.

BV — Apesar de tudo o que temos enfrentado, podemos vislumbrar a erradicação da Covid-19?

Dra. Marilda — Nós não vamos erradicar o coronavírus, porque ele está presente na Natureza, nos animais, mas podemos ter o controle dele se adotarmos uma série de estratégias, como altas coberturas vacinais e acompanhamento de alguns desses vacinados — até porque não sabemos, por exemplo, quanto tempo dura a imunidade de cada vacina. (…) Outra estratégia que não podemos abandonar é o sequenciamento contínuo dessas variantes do coronavírus, o que chamamos de epidemiologia molecular. (…) Elas afetam as vacinas em termos de produção, em termos de anticorpos. (…) Esse monitoramento tem que continuar [para responder a essas perguntas]. Além disso, outra questão é o comportamento da população. Neste momento, nem pensar em abrir mão, mesmo as pessoas que já ficaram doentes ou que já foram vacinadas, de usar máscaras, de lavar as mãos, de manter o distanciamento social. A campanha de vacinação no Brasil está ocorrendo passo a passo, até porque não há muitas vacinas disponíveis; diferentemente da campanha do sarampo, em 1992, em que, em um mês e meio, vacinou-se 48 milhões de crianças ou menores de 14 anos de idade. A campanha está lenta e, por isso, a transmissibilidade do vírus continuará. Então, o comportamento da população é um fator decisório de como e por quanto tempo ainda teremos de enfrentar essa pandemia.

BV — Durante a atual pandemia, qual a realidade vivenciada nos laboratórios como o da Fiocruz?

Dra. Marilda — O impacto na vida das pessoas é muito grande, trata-se de um desafio enorme, e ninguém está sozinho nisso, estamos todos juntos. Aqui, em nosso laboratório, somos uma grande equipe e estamos trabalhando 12 horas por dia desde o início da pandemia. Não é uma situação fácil, nossa rotina é de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Isso gera um forte impacto emocional nas pessoas, mas é a resposta que cada um de nós, cientistas, tem que dar neste momento, porque tudo o que queremos é sair desta situação o mais rápido possível. E, para isso, devemos nos sacrificar por mais alguns meses. Trabalhamos, intensamente, em diversas linhas de pesquisa para contribuir com uma resposta melhor a esse enfrentamento [da Covid-19]. Eu e vários colegas daqui chegamos em casa em torno de 20h30, mas o máximo que conseguimos fazer é tomar um banho e comer alguma coisa. Às vezes, deixo a TV ligada e não presto atenção ao que estou vendo, de tão cansada. Aos sábados e domingos, faço muitas reuniões de modo on-line com amigas de infância e da faculdade. Claro que gostaria de estar com elas num restaurante, mas não posso. Ponto. A gente tem que, dentro da realidade de cada um, buscar alternativas [para lidar com o distanciamento social].

BV — O inverno, estação que favorece o agravamento de doenças respiratórias, chegará em pouco tempo. Há alguma preocupação quanto à associação dessas doenças com a Covid-19?

Dra. Marilda — Nossos hospitais já estão lotados. É uma dolorosa realidade. Entrando agora na temporada de doenças respiratórias na maioria dos Estados do Brasil, se o distanciamento social não for feito, onde as pessoas que necessitem ser hospitalizadas receberão ajuda? Podemos ter um aumento de mortalidade por outras doenças respiratórias. Isso está batendo à nossa porta. O que vimos no ano passado? Nessa mesma época, estávamos em lockdown, que a maioria das pessoas cumpriu bem. O que vimos? Uma diminuição drástica dos outros vírus respiratórios. A gente falava: “Cadê o influenza?” Sumiu [naquela época], porque as pessoas estavam em lockdown. Agora, muita gente não está fazendo distanciamento social, nós já estamos vendo a circulação de vários vírus respiratórios. Como vão ficar a rede hospitalar e os postos de saúde? Piores do que já estão. (…) Temos que pensar que a nossa maneira de agir afeta outras pessoas. Se estou sentada no ônibus, não usando máscara direito, e coloco minhas mãos, possivelmente contaminadas, em tudo que é lugar, posso transmitir o vírus ao passageiro do lado, que pode ser um diabético, um cardiopata… O que fazemos individualmente pode afetar a coletividade.

 

 

1,5 milhão de pessoas não tomaram a 2a dose da vacina contra a Covid-19

Cerca de 1,5 milhão de brasileiros não retornaram aos postos de saúde para tomar a segunda dose da vacina contra a Covid-19. Desse total, mais de 90 mil dizem respeito apenas à capital paulista. Mesmo fora do prazo estipulado pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), todos precisam tomar a segunda dose.

Fontes: Ministério da Saúde e Secretaria Municipal da Saúde da cidade de São Paulo.

 

 

Formada em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), a dra. Marilda Siqueira é virologista e chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). O laboratório atua como Centro de Referência Nacional em vírus respiratórios junto ao Ministério da Saúde e como referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS) em Covid-19 nas Américas.

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Cuidar da circulação pode ajudar a envelhecer melhor e com mais saúde

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Conheça algumas dicas de prevenção e cuidados para evitar doenças que possam afetar os vasos sanguíneos

O brasileiro está vivendo mais e, com isso, os cuidados com a saúde precisam ser reforçados para garantir a qualidade de vida ao longo do envelhecimento. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que as pessoas com 60 anos ou mais já representam 15,6% da população, reflexo do aumento de 56% desta faixa etária desde 2010. Além disso, a expectativa de vida subiu de 71,1 anos em 2000, para 76,4 em 2023. Um dos diversos fatores para a melhoria desse índice está relacionado ao cuidado com a saúde. Para viver mais e melhor, é importante ficar atento para possíveis comorbidades que podem surgir ao longo dos anos, principalmente do sistema circulatório.

 

Com o avançar da idade, os vasos sanguíneos se tornam mais frágeis e dilatados, algo que pode tornar o fluxo sanguíneo mais lento. “Qualquer alteração no fluxo de sangue pode trazer consequências para a saúde, por isso, é preciso ter acompanhamento médico constante para compreender as necessidades de cada paciente. Os idosos podem enfrentar problemas como obstruções, tromboses e riscos de doenças cardíacas relacionadas aos sistema circulatório”, afirma a médica Allana Tobita, cirurgiã vascular e membra da SBACV (Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia vascular).

 

Como prevenir

Para evitar estas situações, a médica recomenda ações que podem se tornar hábitos antes mesmo de chegar à terceira idade. Entre eles estão a atividade física, a ingestão de líquidos, o acompanhamento por meio de check-ups periódicos para prevenir doenças cardiovasculares, entre outros.

Dra. Allana Tobita

“O fortalecimento da musculatura das pernas auxilia na ejeção do fluxo sanguíneo e a ingestão de líquidos melhora a fluidez do sangue nas veias. Já a meia de compressão pode ser uma boa opção para momentos de repouso prolongados, pois ajuda a ativar a circulação, conforme orientação médica. É importante ressaltar que não se trata apenas de uma ação, mas um conjunto de fatores que ajudam a manter o sistema circulatório saudável”, explica Allana.

 

Comida que faz bem

A alimentação saudável, com poucas gorduras saturadas, rica em nutrientes, fibras e antioxidantes também faz parte da receita para cuidar e prevenir doenças circulatórias na terceira idade.

“Frutas vermelhas, oleaginosas e fibras ajudam na proteção dos vasos sanguíneos, evitam o acúmulo de gordura e o entupimento das veias. Estes alimentos promovem diversos benefícios conforme a necessidade de cada paciente”, comenta.

 

Cuidado com a mente e o sono

 

Allana também traz como recomendação a necessidade do sono saudável e o controle do estresse. Ambos têm impacto direto no metabolismo e precisam de atenção especial.

 

“O sono saudável permite que o organismo possa processar melhor os nutrientes e evita a ação de radicais livres, substâncias prejudiciais que aumentam o risco de doenças como a trombose e obstruções arteriais. Já o estresse pode levar a outras situações como a ansiedade, que por consequência afetam o sono e diversos aspectos da saúde. Por isso, uma abordagem multifatorial, que envolva aspectos físicos e psicológicos, pode promover benefícios ainda maiores para as pessoas”, finaliza.

Sobre as meias de compressão

As meias de compressão funcionam como uma “bomba da panturrilha”, e reforçam o mecanismo natural das pernas para bombear o sangue até o coração. Algumas meias como os modelos da SIGVARIS GROUP possuem uma tecnologia que auxilia no tratamento dos desconfortos causados por problemas de circulação, a exemplo de inchaços, dores, entre outros.

 

Sobre a SIGVARIS GROUP

A SIGVARIS GROUP é uma empresa suíça de capital 100% familiar desde sua fundação e que está empenhada em ajudar as pessoas a se sentirem melhor com soluções inovadoras e de alta qualidade em terapia de compressão médica. Todo dia. No mundo todo. Nosso portfólio atende a uma ampla gama de diferentes necessidades e indicações, com o objetivo de promover saúde e qualidade de vida às pessoas, prevenire tratar doenças venosas e proporcionar conforto em todos os momentos da vida. A empresa foi fundada em 1864 na cidade de Winterthur e, por aproximadamente 100 anos, produziu “tecidos emborrachados elásticos”, comercializado na Suíça e no Exterior. Entre 1958 e 1960, colaborou com o Dr. Karl Sigg para desenvolver meias médicas de compressão para melhorar a função venosa e aliviar os sintomas venosos. O portfólio de produtos foi ampliado em 2009 quando as linhas esportivas, de viagem e de bem-estar, dedicadas ao consumidor, foram acrescentadas à linha médica. As meias das linhas de viagem e bem-estar proporcionam uma função preventiva e aliviam os primeiros sintomas de problemas nas pernas, enquanto os produtos da linha esportiva apoiam o desempenho dos atletas e seu tempo de recuperação. No mundo, são 1,5 mil funcionários, em fábricas na Suíça, França, Brasil, Polônia e Estados Unidos, bem como subsidiárias integrais na Alemanha, Áustria, Reino Unido, Canadá, China, Austrália, México e Emirados Árabes Unidos, com atendimento a 70 países. No Brasil, são mais de 200 funcionários em sua sede, em Jundiaí.

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