Brasil
Vereadores são investigados por ‘rachadinha’ em Rondônia e mais 5 estados
Brasil
Novato na política, o vereador de Belo Horizonte Cláudio Duarte (PSL) foi preso esta semana em investigação que aponta desvio de R$ 1 milhão do Legislativo. O parlamentar, que está em seu primeiro mandato, é suspeito de prática ilegal que é velha conhecida dos políticos, a chamada “rachadinha” – a exigência de que funcionários repassem a eles parte dos salários.
As investigações indicam que o caso não é o único na Câmara Municipal de BH. Uma vez confirmadas essas práticas vão se somar a dezenas ocorridas no país. Somente em Ipatinga, no Vale do Aço, cinco vereadores foram presos e afastados em fevereiro por causa da “rachadinha”.
O termo ficou em voga no país desde o fim do ano passado, quando veio à tona investigação do Ministério Público na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, que viu movimentações suspeitas de 27 deputados estaduais, incluindo o filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o agora senador Flávio Bolsonaro, do mesmo partido do pai e do vereador de BH Cláudio Duarte.
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou 48 depósitos em dinheiro numa conta de Flávio Bolsonaro, em um mês. Também indicou movimentação atípica de R$ 7 milhões na conta de Fabrício Queiroz, assessor dele, em três anos.
Em BH, as investigações apontam que os funcionários de Duarte recebiam os salários e, ao sacarem o dinheiro, devolviam parte do vencimento. De acordo com a polícia, somente um dos servidores, que ganhava R$ 11 mil, devolvia R$ 10 mil, ficando apenas com R$ 1 mil. A estimativa é de que Cláudio Duarte tenha ficado com R$ 1 milhão desde o início de seu mandato, em 2017.
Apesar de preso, ele continua recebendo o salário de R$ 17,6 mil. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) dá sequência às investigações e não está se pronunciando sobre o processo.
Em Ipatinga, no Vale do Aço, mais de um quarto dos parlamentares foi punido com prisão e afastamento do cargo por exigir parte do salário de seus assessores. Cinco dos 19 vereadores são acusados da prática. Quatro continuam presos e um está usando tornozeleira eletrônica. “Outras investigações estão em curso”, ressalta o promotor de Justiça Francisco Ângelo Silva Assis, do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), regional do Vale do Aço.
O grupo de investigadores, composto por MPMG e polícias Civil e Militar, identificou mais de 60 crimes associados à prática, entre eles peculato, lavagem de dinheiro, concussão – exigir vantagem usando do cargo público – e integração de organização criminosa. Se aplicadas ao pé da letra, as penas ultrapassam um século de prisão. “A maioria dos vereadores já contratou o funcionário com essa condição”, diz Francisco Ângelo.
O promotor explica que o dinheiro era usado para diversas finalidades. “Houve parlamentar que contratou terceiros que não poderia, outros que pagaram despesas pessoas. Há casos de pagamento de publicidade”, enumera. Os recursos públicos também foram usados para a compra de apoio político. “A justificativa era que o dinheiro era distribuído para o povo”, diz. Os vereadores foram imediatamente afastados do cargo e não recebem salários desde então.
‘Prática habitual’
O diretor e cofundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), o advogado Luciano Santos, afirma que a rachadinha é uma “prática habitual no Legislativo”.
Segundo ele, é difícil haver prevenção para as práticas desse tipo. Uma das possibilidades é a diminuição do número de cargos comissionados, com a substituição por servidores concursados. No Judiciário, por exemplo, há maior número de efetivos, ainda que nos gabinetes particulares dos magistrados.
“Essa é uma medida efetiva para diminuir esse tipo de barganha, porque reduz o poder que o político tem de contratar pessoas”, afirma. Na Câmara de BH, um vereador pode contratar até 18 funcionários, sendo que os salários vão de R$ 1.133,77 a R$ 15 mil, a depender do acúmulo de atribuições do servidor.
A Lei da Ficha Limpa, que começou a valer em 2012, é um dos instrumentos para barrar corruptos e criminosos no poder, mas Santos reconhece que nem sempre esse filtro é o suficiente. “É uma questão de caráter, de ética. O que não pode deixar é reeleger essas pessoas”, afirma.
O presidente da Associação Brasileira de Câmaras Municipais (Abracam), Rogério Rodrigues da Silva, que por seis mandatos foi vereador no município de Coromandel, no Alto Paranaíba, reconhece que há muitas conversas de que a prática exista no Legislativo – municipal, estadual e federal, mas não trata o crime como recorrente. “A gente escuta, teve até a suspeita do filho do Bolsonaro. Mas não se pode uniformizar porque um comete um desvio de conduta. Acredito ser fato isolado”, diz.
Não há levantamento da entidade que dê a medida do problema nas câmaras municipais. Somados os 5.570 municípios brasileiros, o país têm 57.377 vereadores. Segundo a Abracam, um vereador custa, em média, R$ 170 mil por ano aos cofres públicos. O salário é de 20% a 75% da remuneração do deputado estadual.
Rodrigues observa que a prática contradiz o papel de um parlamentar. “Temos o poder de fiscalizar. Temos que ser exemplo pra que possamos desenvolver nosso trabalho com mais credibilidade. Como um vereador que faz ‘rachadinha’ vai fiscalizar o poder público?”, afirma. “Espero que esses maus exemplos não respinguem em outras câmaras”, completa.
PELO BRASIL
Veja os casos registrados e em apuração em seis estados
Aracruz (ES)
Um vereador foi preso em janeiro, suspeito de ficar com parte do salário dos funcionários e contrair empréstimos em nome deles
Buritis (RO)
Vereador indicava pessoas na prefeitura para cargos comissionados e, depois, exigia uma parte do salário. A investigação mostrou que um dos funcionários repassava R$ 1 mil a ele.
Belo Horizonte (MG)
Funcionários de Cláudio Duarte (PSL) recebiam os salários e devolviam parte do vencimento. De acordo com a polícia, somente um dos servidores, que ganhava R$ 11 mil, devolvia R$ 10 mil, ficando apenas com R$ 1 mil. A estimativa é de desvio de R$ 1 milhãos
Ipatinga (MG)
Cinco parlamentares foram presos em operação desencadeada em fevereiro. Investigação mostra que vereadores exigiam parte dos salários dos seus assessores. São eles Luiz Márcio Rocha (PTC), José Geraldo de Andrade (Avante), Rogério Antônio Bento (ex-PSL), Wanderson Gandra (PSC) e Luiz Márcio Rocha Martins (PTC).
Conde (PB)
Um vereador da Paraíba está sendo investigado pela prática da rachadinha. A denúncia foi feita por pessoas que seriam funcionários fantasmas. Uma das pessoas era beneficiária do Bolsa Família e teve o subsídio cortado.
Fortaleza (CE)
O ex-vereador de Fortaleza Leonel Alencar Júnior, conhecido como “Leonelzinho Alencar”, foi condenado a 11 anos e três meses de reclusão, em regime fechado, e multa, pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. A 18ª Vara Criminal identificou que o parlamentar desviava cerca de R$ 20 mil por mês dos salários de seus assessores. Segundo o Ministério Público do Ceará, há outro ex-vereador denunciado pelo mesmo crime.
Quixadá (CE)
Investigação apura áudio de vereador cobrando o depósito de parcela do salário de uma assessora.
Sobral (CE)
No ano passado, o Ministério Público abriu inquérito contra um vereador de Sobral, suspeito de recolher o salário de seus assessores. Um dos funcionários tinha salário de R$ 3,5 mil, mas ficava apenas com R$ 1 mil. O dinheiro era devolvido em espécie, entregue à esposa do parlamentar
Lorena (SP)
Uma ex-assessora de um parlamentar teria sido obrigada por ele a repassar metade do salário. O filho do vereador teria ameaçado a funcionária. Outros dois assessores trabalhavam em comércios da família do parlamentar, suspeitos de também “rachar” a remuneração. Em meio à investigação, os assessores foram exonerados. O vereador foi indiciado por concussão e coação
EM
Brasil
STF retoma julgamento sobre responsabilidade de redes por conteúdos
Ministro Dias Toffoli conclui leitura de seu voto
O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma nesta quarta-feira (4) o julgamento dos processos que tratam da responsabilidade das empresas que operam as redes sociais sobre o conteúdo ilegal postado pelos usuários das plataformas.
O julgamento começou na semana passada e ainda não há placar de votação formado. Somente o ministro Dias Toffoli, relator de um dos processos, iniciou a leitura de seu voto, que deve ser finalizado na sessão de hoje. Mais dez ministros vão votar sobre a questão.
A Corte discute a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), norma que estabeleceu os direitos e deveres para o uso da internet no Brasil.
De acordo com o artigo 19, “com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura”, as plataformas só podem ser responsabilizadas pelas postagens ilegais feitas por seus usuários se, após ordem judicial, não tomarem providências para retirar o conteúdo.
Na semana passada, representantes das redes sociais defenderam a manutenção da reponsabilidade somente após o descumprimento de decisão judicial, como ocorre atualmente. As redes socais sustentaram que já realizam a retirada de conteúdos ilegais de forma extrajudicial, que o eventual monitoramento prévio configuraria censura.
Por outro lado, os ministros Alexandre de Moraes e Dias Toffoli já sinalizaram que devem se manifestar a favor de balizas para obrigar as redes sociais a retirarem conteúdos ilegais de forma mais rápida.
Para Moraes, os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 demonstraram a “falência” do sistema de autorregulação das redes sociais .
Dias Toffoli afirmou que o Marco Civil da Internet deu imunidade para as plataformas digitais.
Entenda
O plenário do STF julga quatro processos que discutem a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet.
Na ação relatada pelo ministro Dias Toffoli, o tribunal julga a validade da regra que exige ordem judicial prévia para responsabilização dos provedores por atos ilícitos. O caso trata de um recurso do Facebook para derrubar decisão judicial que condenou a plataforma por danos morais pela criação de um perfil falso de um usuário.
No processo relatado pelo ministro Luiz Fux, o STF discute se uma empresa que hospeda um site na internet deve fiscalizar conteúdos ofensivos e retirá-los do ar sem intervenção judicial. O recurso foi protocolado pelo Google.
A ação relatada por Edson Fachin discute a legalidade do bloqueio do aplicativo de mensagens WhatsApp por decisões judiciais e chegou à Corte por meio de um processo movido por partidos políticos.
A quarta ação analisada trata da suspensão do funcionamento de aplicativos diante do descumprimento de decisões judiciais que determinam a quebra do sigilo em investigações criminais.
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